Ninguém veio o guiar para canto nenhum, e seus dedos já estão pálidos. Anda para lá e para cá procurando o quarto, e bate em um qualquer, esperando que lá tenha um brasileiro também.
Ja estava no quarto, arrumando sua parte do armário, ouvindo alguma musica meio gay enquanto vazia isso.
"Ah! É brasileiro também! Abre essa porta pra mim, cara, senão eu congelo aqui fora."
Frane a sobrancelha, mas deixa ele entrar, "tu é o cara que vai dividir o quarto comigo?"
"Depende, esse aqui é o quarto 24?"
olha em volta e entra no quarto quente e agradável, respirando fundo e se sentindo um pouco mais vivo. Deixa as malas num canto e senta numa cama vazia, feliz da vida.
"Aliás, meu nome é Carlos."
"Andre" diz simples, indo terminar de arrumar o armario.
Olha para ele, fazendo que sim enquanto dobrava ua camisa "quarto 24, bloco B
"Então é aqui mesmo. Vou ficar por aqui, tudo bem?"
deitado na cama agora, feliz da vida.
: "Não sabia que o Canadá era tão gelado assim. Se eu soubesse, nem teria vindo."
"Cara, metade do pais é um bloco de gelo" terina o armario, puxando um poster do Hanyu para colar do seu lado do quarto "por que veio?"
de ombros. Nem sabe por que veio.
"Porque me prometeram uma bolsa e eu consegui passar? Sei lá. Não pretendo ficar aqui por muito tempo. Vou catar grana e fugir."
"eles tão te pagando pra ficar aqui?" pergunta curioso, olhando orgulhoso pro poster "me deram uma bolsa tabe, pra patinação"
"A gente tem que receber bolsa, né, pra sobreviver aqui. Não confio no sistema de saúde do Canadá. Eu me estabaco tanto que tenho certeza que vou ter que pagar uma neurocirurgia."
"Acho que devo ser aqueles underdogs dos filmes que os caras conseguem transformar em picas, mas eu não vou virar pica nunca então eu só vou pegar a grana e meter o pé."
"Nada de quads ou triples ou sei lá o quê! Eu não sei fazer nada disso."
"não so pulos é facil" da de ombros, pegando um maço de cigarros na mochila "ta pensando em ir em algum depois daqui?"
"Não conheço nada daqui. Me perderia mole."
zanzando pelos corredores do alojamento, enrolado no seu casaco de pele sintética, se perguntando por que diabos os aquecedores não estão funcionando naquela hora do dia.
Deveria ter saído mais cedo para guiar os recém-chegados, parte do seu trabalho praticamente auto-imposto de assistente do treinador (já estava lá há uma semana e já se considerava íntimo do dito cujo).
Não encontrando nenhum recém-chegado perdido, vai diretamente até o quarto designado a eles, segundo o mui confiável papelzinho que recebera mais cedo.
"não vejo motivo pra vazar daqui... a comida é boa" tira um cigarro do maço dando de ombros "se importa se eu...?" levanta o cigarro.
"Fica à vontade, só abre a janela. Tenho asma."
Bate três vezes, respeitando a privacidade de quem quer que estivesse lá dentro, mas abre a porta mesmo assim. "Quarto 24? Alguém aí?"
Ergue uma sobrancelha. "E você é o Carlos ou o André?", e imediatamente se vira pro outro agarrado num maço de cigarros. "Não é permitido fumar nas dependências da escola, bota isso fora agora ou boto eu."
Esconde os cigarros rapido "aqui mesmo'
diz: "Eu sou o Carlos. Esse cara aqui se chama André. E por que não podemos fumar? Que saco."
Suspira pesado, dramático na sua impaciência. "Vocês são atletas. Vocês precisam dos seus pulmões inteiros.", fala, num tom de quem está explicando algo simples a uma criança de três anos.
"Rapaz, eu tenho asma." Mas fala de um jeito que pode ou não ser sério. "E aí?"
Franze a testa e passa o olhar pelo famoso papelzinho. "Isso não consta na sua ficha médica. Vou precisar falar com o médico da equipe."
"RÁÁÁÁ PEGADINHA DO MALANDROOOOOO"
"tu é carioca ne?" resmunga pro colega de quarto, sem nem sorrir com a piada.
"... Sou" murmura, ofendido com a falta de risadas.
Estreita o olhar na direção de Carlos e anota alguma coisa furiosamente no papelzinho. "Vou checar sua ficha de novo só por precaução." E por raiva, mesmo
"Desculpa, cara. Foi só uma piada" murmura, com medo de ter feito merda real.
de ombros, mas anota outra coisa no papelzinho. "Sem problemas. Vocês vão ter que passar por exames médicos, de qualquer jeito. É praxe."
"Serio que tu vai foder o cara so por causa de uma piada escrota?... alias, quem é voce pra fazer isso?"
sussurra "Manda quem pode, obedece quem tem juízo", olhando para o alto.
"Não estou--", faz aspas com as mãos, afetado, "'fodendo' ninguém. Só vim dar as boas-vindas e explicar como serão as coisas por aqui de agora em diante."
"Então pode falar, somos só ouvidos."
"De boas então" puxa o cigarro de volta, procurando o isqueiro na mochila "ce ainda não falou teu nome"
outro suspiro, mas finalmente para de anotar no papelzinho. "Me chamo Már--", se interrompe ao notar que o outro realmente vai fumar ali, na frente dele.
Caminha calmamente até ele, delicadamente lhe tirando o cigarro da mão. "Nope. Não enquanto eu puder impedir."
Então, caminha calmamente até a janela, abre uma fresta, e joga o cigarro fora. Esfregando as mãos, vira-se para os dois novamente. "Me chamo Mário. Sou o assistente do nosso treinador."
"Você fica atrás do armá-"
Cala a boca imediatamente.
porra, cara, sabe quanto isso cus--... Boa noite, senhor, prazer em te conhecer"
Abre a boca pra cortar Carlos quando ele começa, mas fecha quando ele resolve não continuar. Pigarreia e retoma a compostura. "Boa noite. É um prazer conhecer vocês, meus... conterrâneos."
Sorri e se levanta, finalmente, indo até ele e estendendo-lhe a mão. "Tenta relaxar, cara, a gente é de boa."
"ce é brasileiro tambem?" diz animado, tambem levantando e estendendo a mão, "e de onde?"
Hesita levemente, mas aceita a mão de Carlos, visivelmente mais relaxado. "Tá certo... Sou de Porto Alegre, apesar de ter vivido esses últimos dois anos em Praga. Tenho família lá."
"Essa é a primeira vez que vocês moram fora do país?"
"É sim. Antes eu nunca nem tinha saído do Rio. Acho que foi um mau começo."
"eu ja fui pro paraguaí, serve?"
"...Não sei, aqui é bem diferente do Paraguai. Ou do Rio. Mas com o tempo, vocês se adaptam. Estou aqui pra ajudar." E dá um sorriso de quem não sabe se quer ajudar.
"Valeu mesmo" sorri largo, se jogando na cama de novo.