Eu deixarei que morra em mim O desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar Senão a mágoa de me veres eternamente exausto No entanto a tua presença É qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto Existe o teu gesto e em minha voz a tua voz Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim Como a fé nos desesperados Para que eu possa levar Uma gota de orvalho Nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne Como nódoa do passado Eu deixarei Tu irás e encostarás a tua face em outra face Teus dedos enlaçarão outros dedos E tu desabrocharás para a madrugada Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu
Porque eu fui o grande íntimo da noite Porque eu encostei minha face na face da noite E ouvi a tua fala amorosa Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa Suspensos no espaço E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado Eu ficarei só Como os veleiros nos portos silenciosos Mas eu te possuirei como ninguém Porque poderei partir